Desde tempos remotos, as tatuagens estiveram associadas a diversos propósitos, como símbolos de pertencimento a grupos, expressão de crenças religiosas ou até mesmo rituais de passagem. No entanto, a prática tatuagem evoluiu consideravelmente, assumindo um caráter multifacetado nos dias de hoje. Ela não somente continua a refletir aspectos culturais e sociais, mas também se tornou […]
Desde tempos remotos, as tatuagens estiveram associadas a diversos propósitos, como símbolos de pertencimento a grupos, expressão de crenças religiosas ou até mesmo rituais de passagem. No entanto, a prática tatuagem evoluiu consideravelmente, assumindo um caráter multifacetado nos dias de hoje. Ela não somente continua a refletir aspectos culturais e sociais, mas também se tornou uma forma de arte altamente personalizada. Sendo assim, conheça a história de Cássia, 25 anos, tatuadora a quase quatro anos. Jovem que encontrou na arte de tatuar um meio de satisfação e realização profissional conforme comenta
— A tatuagem na realidade me buscou e me levou para esse meio, quando mais nova desenhava bem, mas nunca imaginei trabalhar com algo assim, como toda criança, eu queria ser médica ou veterinária, porém o vestibular me levou ao Direito. Um certo dia, aos meus 18 anos, resolvi fazer minha primeira tatuagem, e foi aí que tive um primeiro insight, “que negócio bacana riscar a pele alheia e marcar pro resto da vida”, porém como estava fazendo faculdade o bacharel em direito eu precisava conclui-la, e deixei em off essa ideia e a vida seguiu. Entrei na companhia de saneamento de SC por meio de concurso público, porém eu sentia que meu lugar não era ali, burocracia, você ficar atrelado a rotinas etc., não era para mim — comenta.
No último ano de faculdade, Cássia relata que resolveu que era o momento certo de ter filho, já tinha estabilidade financeira, a graduação bem encaminhada e estava em uma fase muito boa de seu relacionamento de seis anos de casamento. Pensava também em ser o momento correto para aprender algo novo.
— Sabendo que na empresa após o parto eu entraria em licença maternidade (6 meses), pensei que seria um momento bacana pra poder aprender algo novo, me programei, vi alguns espaços em Florianópolis onde haviam escolas de tatuadores onde poderia ir e aprender esse ofício, porém quando estava no hospital e o Joaquim nasceu, um tatuador que residia em minha cidade postou que iria disponibilizar um curso, te digo não, pensei duas vezes e chamei, uma semana depois estava eu com meu pequeno junto, riscando peles sintéticas e tendo o primeiro contato com a máquina e com a área, no terceiro dia de curso como demonstrei aptidão, o profissional já me orientou a iniciar a aplicação em pele humana, percebia na tatuagem algo que me cativou passava horas e horas a fio, tatuando sempre com sorriso no rosto e coração cheio de alegria, pois amava cada etapa do processo cada experiência — relata.
Durante o período de licença maternidade, Cássia buscou aperfeiçoamento. Foram 14 cursos, alguns presenciais outros em EAD, onde formou seu método de trabalho, com enfoque em cicatrização adequada. Conseguiu concluir sua graduação, e pode ir aprimorando a nova profissão. Mas o período de licença maternidade acabou, Cássia precisou voltar para o emprego, algo que lhe causou muitas frustrações, afetando sua saúde.
— Num piscar de olhos tive que voltar a empresa a qual eu trabalhava, foi um período bem crítico da minha vida pois eu trabalhava de domingo a domingo com tatuagem, algo que eu amava com toda minha força, e mais a função que exercia na CASAN, tive depressão, ansiedade, fobia, síndrome do pânico, tudo junto e misturado, morria de medo de me jogar em algo incerto e duvidoso. Sempre fui pé no chão e até que um dia resolvi dar um passo maior e jurei que aquele dia seria a última vez que eu choraria por trabalhar em algo que eu não amava. Resolvi me desligar definitivamente da empresa e ir viver o sonho, a partir daí tive experiências muito bacanas, tatuei pessoas de vários locais do nosso país e do mundo. A tatuagem me levou a conhecer meus irmãos queridos do grupo Raça Negra, onde tatuei o pessoal por diversas vezes e criamos um carinho muito bacana — enfatiza.
Atualmente, Cássia realiza atendimentos em Jaborá no seu estúdio, e em Xanxerê no Espaço do Jaguar, de Fernando Rafael, que disponibiliza diversas terapias em um ambiente moderno e acolhedor.
— Tenho como lema aqui no estúdio “tatuagem é sentimento na pele” faço meu trabalho como se fosse a última tatuagem que fosse fazer na vida, pois cada trabalho me proporciona não somente retorno financeiro, mas de partilhar experiências com cada pessoa, cada história linda que escuto aqui é emocionante, e todo dia são várias histórias diferentes. Outra coisa que prego e prezo nessa caminhada é que todo trabalho tem que ter um impacto social, e como a Tatto conseguiria isso. Realizamos tatuagem 3D para recuperação da auréola mamária em mulheres que enfrentaram o câncer de mama de maneira gratuita, é a tatuagem que poucas pessoas verão, porém tem um impacto emocional muito grande principalmente do sagrado feminino, e da autoestima da mulher. Trabalho com diversos estilos desde realismo fine line portrait pontilhismo, mas também desenvolvemos coberturas — finaliza.
Desde o início foram cerca de 4 mil tatuagens realizadas e inúmeros clientes passaram pelas mãos e talento de Cássia, que segundo ela, “cada um leva um pouco de mim e deixa um pouco de si”.