Imprensa

Elisa Tonini | 14/08/2025 14:05

14/08/2025 14:05

10865 visualizações

Câmara de Xanxerê realiza sessão solene “Agosto Lilás – Galeria por Elas” em combate ao feminicídio

Durante a solenidade, foram lembradas as vítimas locais Makeli Poletto e Jéssica Lumi, além de todas as mulheres que perderam a vida em decorrência da violência de gênero

A Câmara de Vereadores de Xanxerê promoveu ontem (11) uma emocionante sessão solene em alusão ao Agosto Lilás, mês de conscientização sobre a violência contra a mulher. O evento “Galeria por Elas” reuniu autoridades, familiares de vítimas de feminicídio e representantes da rede de proteção para debater e fortalecer as ações de combate à violência doméstica no município.

A solenidade foi marcada por momentos de profunda reflexão e emoção, especialmente durante os depoimentos de familiares que perderam entes queridos para o feminicídio. O evento destacou a importância da Lei Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006, e reforçou o compromisso coletivo da sociedade xanxerense em dizer não à violência contra a mulher.

Autoridades reafirmam compromisso com a causa
A abertura oficial contou com a participação de importantes autoridades municipais que compuseram a mesa de honra. O prefeito Oscar Martarello destacou a importância do evento para fortalecer as políticas públicas de proteção à mulher no município. “Este é um momento de reflexão e ação. Precisamos trabalhar juntos para criar uma rede de proteção eficiente”, afirmou o prefeito.

O presidente da Câmara de Vereadores, Evandro Saibo, enfatizou o papel do Poder Legislativo no enfrentamento à violência doméstica. “A Câmara está comprometida em aprovar projetos e iniciativas que protejam as mulheres de Xanxerê”, declarou Saibo durante sua fala.

Também participaram da mesa de autoridades Rosicler Puerari, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher; Fabiana Mascarello, da Secretaria Municipal de Assistência Social; e Fernanda de Oliveira, procuradora da Mulher, todas reforçando a necessidade de união entre os órgãos públicos para combater a violência de gênero.

Dados revelam realidade preocupante em Xanxerê
Um dos momentos mais impactantes da sessão foi a apresentação dos dados sobre crimes contra mulheres em Xanxerê, realizada pela advogada Michele C. Marchese. Os números apresentados contextualizaram a necessidade urgente de ações efetivas no município e serviram como base para a criação da “Galeria por Elas”.

A apresentação dos dados revelou aspectos preocupantes da violência contra a mulher na região, demonstrando que o problema não é distante da realidade local. As informações apresentadas serviram como alerta para a sociedade e como motivação para o fortalecimento das políticas públicas de proteção.

Famílias compartilham superação
O momento mais emocionante da sessão foi dedicado aos depoimentos das famílias que perderam entes queridos para o feminicídio. Com coragem e determinação, uma mãe e uma irmã, compartilharam como foi a superação.

Maieli Daiana Poletto, irmã de Makeli Poletto, relembrou a tragédia que vitimou sua irmã na madrugada de 19 de dezembro de 2021. Makeli foi assassinada em sua residência no bairro Vila Sésamo, em Xanxerê, vítima de um disparo pelas costas. “Minha irmã tinha sonhos, tinha uma vida pela frente. Não podemos deixar que sua morte seja em vão”, declarou Maieli, emocionada.

O caso de Makeli chocou a comunidade xanxerense e evidenciou a gravidade da violência doméstica. A mãe da vítima, Neidir Scalco, e uma amiga foram as primeiras a encontrar Makeli após o crime. Apesar dos esforços de socorro, ela não resistiu aos ferimentos.

Outro depoimento que marcou a sessão foi o de Rosane Mettler, mãe de Jéssica Lumi, vítima de feminicídio ocorrido em 3 de abril de 2010. Jéssica tinha apenas 17 anos quando foi morta em sua residência por sua ex-companheira, em um contexto de violência íntima envolvendo um relacionamento homoafetivo conturbado.

“Minha filha era muito jovem, tinha toda a vida pela frente. A violência não escolhe idade, orientação sexual ou classe social. Precisamos proteger todas as mulheres”, afirmou Rosane, destacando que a violência contra a mulher atinge diferentes perfis e relacionamentos.

Rede de proteção se fortalece com diálogo
A sessão também promoveu uma importante rede de conversa envolvendo representantes dos órgãos de proteção e segurança do município. O objetivo foi construir estratégias conjuntas de prevenção, acolhimento e enfrentamento à violência contra a mulher.

Participaram da roda de conversa o Dr. Marcos Alberton, do Ministério Público; Vinicius Buratto Iunes, da Delegacia de Polícia Civil; e a Cabo Gizele Santana Antunes, representante do programa Rede Catarina da Polícia Militar. Estes profissionais destacaram a importância da integração entre os órgãos de segurança para o combate efetivo à violência doméstica.

A área da assistência social foi representada por Cristiane Golembieski, supervisora do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), que explicou os serviços de acolhimento e apoio oferecidos às vítimas de violência. “O CREAS é uma porta de entrada importante para mulheres em situação de vulnerabilidade”, explicou Cristiane.

A Secretaria de Saúde participou através da psicóloga Karine Ferronato Preto, que abordou os aspectos psicológicos do atendimento às vítimas de violência e destacou as diversas formas de agressão que as mulheres enfrentam. A profissional explicou que a violência contra a mulher vai além da agressão física, incluindo violência psicológica, especialmente contra idosas, e violência financeira, que muitas vezes passa despercebida pela sociedade. ‘O acompanhamento psicológico é fundamental para a recuperação e o empoderamento das mulheres que sofreram qualquer tipo de violência. Precisamos reconhecer que a violência psicológica e financeira são tão graves quanto a física e deixam marcas profundas’, destacou Karine.

Tapete reflexivo simboliza dor silenciada
Um dos elementos mais simbólicos do evento foi o “tapete reflexivo”, uma instalação artística que representou a dor das mulheres violentadas que muitas vezes é ignorada pela sociedade. O tapete continha palavras que representavam insultos, julgamentos, medos e gritos silenciosos de socorro, tornando-se invisíveis aos olhos daqueles que passavam por cima.

A ação de caminhar sobre o tapete ilustrou como a dor das mulheres violentadas é frequentemente banalizada ou silenciada pela sociedade. Cada passo simbolizava o ciclo de violência: a invisibilidade, a indiferença e o descaso. Ao mesmo tempo, o tapete serviu como convite à reflexão, desafiando os participantes a não repetir esse comportamento na vida real.

“Precisamos aprender a não pisar na dor do outro, a enxergar além da superfície, a ouvir e amparar, transformando o chão da dor num espaço de acolhimento e dignidade”, explicaram os organizadores sobre o significado da instalação.

Compromisso permanente com a causa
O encerramento da sessão solene ficou por conta de Rosicler Puerari, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, que fez as considerações finais do evento. Em sua fala, ela reforçou que o “Agosto Lilás – Galeria por Elas” representa apenas o início de um compromisso permanente da sociedade xanxerense com o combate à violência contra a mulher.

“Chegamos ao final do nosso evento, mas não ao fim de nosso compromisso. Que as vozes que aqui ecoaram continuem reverberando em nossas ações cotidianas. Que a memória das vítimas nos inspire a construir um futuro onde nenhuma mulher precise temer por sua segurança”, declarou Rosicler durante o encerramento.
A presidente do Conselho destacou ainda que cada participante deve sair do evento como um multiplicador da mensagem de proteção, respeito e valorização da vida das mulheres. “Juntos, podemos fazer a diferença. Que cada um de nós seja um agente de transformação em nossa comunidade”, concluiu.

Agosto Lilás marca mês de conscientização
O mês de agosto foi escolhido simbolicamente para lembrar da Lei Maria da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006, que representa um marco fundamental na proteção dos direitos das mulheres brasileiras. A lei criou mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher e estabeleceu medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência.

A Galeria por Elas se consolida como mais que um evento, tornando-se um compromisso coletivo da sociedade xanxerense em dizer não à violência contra a mulher. O evento funcionou como um espaço de memória, reflexão e, principalmente, de ação transformadora para a construção de uma sociedade mais justa e segura para todas as mulheres.

A sessão solene demonstrou que Xanxerê está comprometida com o enfrentamento à violência de gênero, unindo esforços entre poder público, sociedade civil e órgãos de proteção para criar uma rede eficiente de prevenção e acolhimento às mulheres em situação de vulnerabilidade.

Deixe seu comentário

Política de privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.