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Lance Notícias | 01/09/2025 09:05

01/09/2025 09:05

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Do tatame à vida real: como o jiu-jitsu fortalece mulheres contra a violência

Relato de servidora pública de Xanxerê mostra como as artes marciais podem fortalecer mulheres na autodefesa

O Agosto Lilás, mês dedicado à prevenção e ao enfrentamento da violência contra a mulher, chegou ao fim, mas o debate precisa seguir vivo ao longo de todo o ano. Mais do que uma campanha pontual, a pauta reforça a necessidade de ações contínuas que ofereçam proteção, autoconfiança e oportunidades de fortalecimento para as mulheres. Nesse contexto, o esporte, especialmente as artes marciais, surge como um caminho transformador.

A servidora pública federal Patrícia Aviloff Zago da Cunha compartilha sua trajetória como exemplo. Desde a infância, sua mãe a incentivou a praticar artes marciais, acreditando que o aprendizado de defesa pessoal seria fundamental.

Ainda pequena iniciou no karatê, mas só anos mais tarde retomou a prática com mais consciência. Passou pelo muay thai e encontrou no jiu-jitsu a modalidade capaz de unir técnica e autodefesa de maneira eficaz.

“Foi no jiu-jitsu que eu tive a real noção de autodefesa. Ele foi criado para que pessoas menores consigam dominar alguém mais forte, usando apenas o corpo e a técnica. Percebi, durante os treinos, que mesmo sendo menor, eu poderia aplicar um golpe corretamente e neutralizar um adversário mais forte”, relatou Patrícia.

A experiência mostrou que a defesa pessoal vai além da reação física. O jiu-jitsu ensina, antes de tudo, a manter o equilíbrio emocional em situações de estresse. Para Patrícia, esse aprendizado é essencial.

“Muitas vezes, o mais importante é respirar, controlar o nervosismo e pensar racionalmente. Isso é autodefesa também”, destacou.

O impacto do esporte, no entanto, não se limita ao tatame. Patrícia observa mudanças significativas no comportamento de meninas e adolescentes que iniciam a prática sem pensar em autodefesa, mas acabam desenvolvendo autoconfiança e maturidade.

Essa transformação reflete diretamente na forma como enfrentam problemas fora do ambiente esportivo, tornando-se mais seguras para se posicionar em situações de risco.

Exemplos reais reforçam esse potencial. Patrícia relembra o caso de uma senhora de Florianópolis, que após ser assaltada aos 58 anos decidiu iniciar no jiu-jitsu. Hoje, já como faixa roxa, a praticante afirma sentir-se capaz de circular com tranquilidade, sabendo como agir em caso de ameaça.

“Ela passou de uma experiência traumática para uma vida mais segura e confiante. Isso mostra a força que o esporte pode ter”, contou Patrícia.

A relevância do jiu-jitsu também aparece em episódios noticiados recentemente, como o de uma menina de 12 anos que conseguiu escapar de um abuso sexual ao aplicar uma técnica aprendida nos treinos.

Casos assim demonstram que a prática pode ser decisiva em situações de violência, transformando o esporte em um aliado direto na proteção das mulheres.

Mais do que um recurso físico, o jiu-jitsu oferece saúde mental, inteligência emocional e sensação de pertencimento.

Em cidades pequenas, Patrícia avalia que ainda existe resistência à presença feminina nos tatames, mas esse paradigma vem sendo superado. O aumento no número de praticantes mulheres mostra que o espaço está se tornando mais inclusivo e, acima de tudo, mais necessário.

O fim do Agosto Lilás simboliza apenas a conclusão de um mês de mobilização, mas não deve encerrar a luta contra o feminicídio e a violência de gênero. O esporte, como demonstra o relato de Patrícia, precisa ser encarado como uma ferramenta permanente de prevenção, empoderamento e autodefesa.

Mulheres em situação de violência não devem se calar. A denúncia é fundamental para romper o ciclo de agressão. O atendimento está disponível todos os dias, em qualquer horário, pelos canais oficiais:

  • Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher
  • Ligue 190 – Polícia Militar, em casos de emergência

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