Trabalho destaca impacto da leitura na remição de pena e retrata realidade dos presídios brasileiros
A professora e escritora Rossaly Beatriz Chioquetta Lorenset conquistou reconhecimento internacional ao ser premiada na Feira Internacional do Livro de Turim, na Itália, com o ensaio “A leitura pode ser uma sentença de liberdade?”, inspirado em seu recém-lançado livro Leitura e cárcere: (entre) linhas e grades, o leitor preso e a remição de pena (Editora Appris). O trabalho foi selecionado entre mais de 850 autores no Prêmio Literário “Don Meco – Dietro le Sbarre”, promovido pelo Fórum do Terceiro Setor do Piemonte e pelos Salesianos para o Bem-Estar Social, e será publicado em livro oficial do concurso naquele país.
“Fico muito feliz que meu ensaio recebeu esta premiação na Itália. Essa conquista se traduz em convite para eu continuar com paixão a trilhar os caminhos das letras”, celebrou Rossaly, doutora em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O livro, que estará no estande da Editora Appris na Bienal do Livro Rio 2025, discute temas como desigualdade social, o funcionamento dos sistemas de segurança e justiça, as condições dos presídios e os fundamentos da pena, com base em sua experiência em um projeto de extensão de leitura com detentos, realizado por cinco anos no curso de Direito da Unoesc Xanxerê.
Resultado de sua pesquisa de doutorado, a obra lança luz sobre o sistema prisional brasileiro, que ocupa o terceiro lugar no ranking mundial de países que mais encarceram. A autora analisa a aplicação da remição de pena por leitura, prevista na Lei de Execução Penal (LEP), que completa 41 anos em 2025. Segundo a lei, cada livro lido pode reduzir quatro dias da pena. Rossaly destaca que essa política foi adotada diante da ausência de trabalho e educação no cárcere, representando uma alternativa viável e de baixo custo para o Estado.
A pesquisa, realizada no presídio de Xanxerê, revela a precariedade das condições de leitura nos presídios. Um dos relatos mais marcantes apresentados no livro é o de um detento que, após ser baleado pelo próprio pai aos nove anos ao defender a mãe de agressões, passou a encontrar refúgio nos livros: lia com a luz da televisão, após o apagar das luzes da cela. O envolvimento dos presos com a leitura gerou mudanças significativas, como o hábito de indicar livros aos filhos.
Rossaly é também autora do livro Língua e Direito: uma relação de nunca acabar. Além de doutora pela UFSC, é mestre em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), licenciada em Letras Português-Inglês pela Facepal (Palmas-PR) e em Língua e Literatura Espanhola pela Unoesc. Desde 2001, atua como professora e pesquisadora na Unoesc Xanxerê e é facilitadora de Justiça Restaurativa.