Não. Não é fácil gerir uma crise pandêmica nunca antes vivenciada. Também não se espera que a pandemia mundial seja evitada completamente, na medida em que se trata de uma “guerra perdida” desde o início. Premissas estas que se reputa serem imanente ao contexto.
Todavia estamos há quase 10 meses de crise, tempo suficiente para se fazer, ainda que minimamente, alguma avaliação. Não se trata de avaliar questões polêmicas e controvertidas, mas, convenhamos, não se pode negar que há pontos que já deveriam ter sidos superados, pois não? Algumas merecem atenção. São elas:
Lockdown inicial em março: Já escrevi a respeito da natureza do lockdown. Como medida de gestão ela seria de alguma valia se no período do lockdown tivessem sidos remanejados receitas, contenção de despesas, aparelhamento de estabelecimentos de saúde de forma a prover minimamente o sistema, muito além do que se fez (que foi insuficiente). O que se viu no Estado de Santa Catarina foi uma espera frustrada de aporte financeiro da União, uma tentativa fracassada de implantar um hospital de campanha e os inesquecíveis 33 milhões perdidos para os “respiradores”. Logo, medida tomada sem qualquer resultado.
Pandemia de decretos: ao invés de se tomar medidas objetivas e acessível a todos, optou-se por promover a edição quase que semanal – quando não diária – de decretos extensos, prolixos, detalhados em minúcias, impossíveis de serem cumpridos. 10 meses de decretos, portarias, regulamentos etc, sem estrutura mínima de fiscalização e sem incremento no fator informação. Resultado: Ninguém mais sabe o que pode e o que não pode. Sociedade calapsou. Se os gestores conseguirem manter a máscara e o álcool gel, já será uma grande coisa.
“tá contigo, tá com ela, tá com ele, tá comigo” – Recordo de uma brincadeira de infância semelhante ao pega-pega. Ao encostar naquele que também estava brincando deveria se dizer “tá contigo” e, este, por sua, deveria passar adiante, ao correr atrás de outro até enconstá-lo e “passar”, com o toque, e dizer “tá contigo”. Pois bem. No início, no estado de Santa Catarina, o governo decreto o lockdown e aguardou o socorro que acreditava deveria vir da União (“tá contigo União”). Não veio. Então, resolveu repassar a gestão aos municípios, e assim o fez (“tá contigo município”). Não deu certo, houve intervenção judicial e a gestão voltou ao Estado (“tá comigo”). Nesse passa pra um, espera doutro e volta pra mim não se definiu um plano sólido de gestão, porquanto os decretos continuavam a toda força. Quando um espera pelo outro, ninguém faz.
Índices e indicadores: Criou-se um critério para medir índices. Depois mudou-se o critério. Depois regionalizou (numa divisão estranha). Depois foram fixados patamares de atenção. Alguns números – bastantes, aliás – atrasados, desencontrados e até mesmo não fidedignos, a ponto de muitos municípios criarem sistema próprio de dados. Fixou-se critérios de grave, gravíssimo, seriíssimo (sei mais não o que é isso). Porém, em dezembro, após nova batalha judicial, optou-se por liberar hotéis, cinemas etc em contrário aos próprios indicadores. Logo a pergunta: qual a consequência e para que servem os índices?
Gestão da crise a cargo da saúde: Sim, é uma crise que atingiu eminentemente a saúde. Os investimentos, por certo, deveriam ser na saúde (tá que em alguns locais como em Xanxerê somente houve incremento de leitos após um “empurrãozinho” do Judiciário e do Ministério Público, mas vá lá). Agora, uma coisa é o área objeto da crise, outra é gestão da crise na sua integralidade. Suponhamos que os números baixem a patamares ínfimos e que a “imaculada” vacina venha e seja disponibilizada a todos. Normalizado, a princípio, o “fogo” na saúde. Porém sabemos que o reflexo e as consequências atingem áreas que não somente da saúde. A assistência social certamente terá um débito tão grande quanto a desgraça do vírus. A economia necessitará de atenção. A educação, nem se fala. Mas em relação a essas áreas referidas exemplificativamente presume-se que não será gerenciada pela saúde, mas pela…pela…pela…
Plano de retomada: vamos aguardar…..